27.11.17

Manha

Não gosto de ouvir alguém dizer que bebés recém-nascidos têm manhas e nem sequer compreendo muito bem de onde surge esta ideia. "Ah, chora a ver se lhe pegam ao colo, é mesmo manha". Não, não é manha, é necessidade. Quando é que se criou a ideia de que um bebé que saiu há horas, dias, semanas de um corpo quente e sossegado não tem qualquer necessidade de ser aconchegado num colo quente, para se sentir seguro em vez de perdido neste mundo frio, barulhento, desconhecido e cheio de estímulos? Não compreendo por isso a ideia de não se fazer algo que dê conforto a um recém-nascido (seja colo ou qualquer outra coisa que o ajude naquele momento) para que este não ganhe "manha", não fique "manhoso". E cada vez que oiço alguém dizer que um bebé de 1 mês já tem manhas, lembro-me da primeira vez que percebi que efectivamente a Mini-Tété estava a ser "manhosa". Tinha 5 meses.

Nessa altura, andava a adormecer tardíssimo, lá para as 3h da manhã, e até lá era uma energia sem fim. Mas depois desatava num berreiro de sono que parecia que o prédio vinha abaixo e notava-se claramente que muito daquele choro era cansaço e sono e que ela já só queria dormir. Depois de algumas leituras sobre o tema, aprendi que o sono dos bebés passa por fases: eles começam por dar ligeiros sinais de sono, e se não forem logo deitados, entram na fase da energia em que ninguém diria que a hora de eles adormecerem já passou, até finalmente chegarem a um ponto de cansaço tal que já não conseguem adormecer por estarem exaustos. O truque passa então por reparar quais os primeiros leves sinais de sono que eles nos transmitem (no caso da Mini-Tété era algo tão simples como mexer numa orelha) e deitá-los logo.
Bom, enquanto não descobrimos isto e a pequena achava que era um morcego, havia ali pelo meio diversas tentativas de a deitar mais cedo, mas ela desatava num berreiro de protesto e como o Jack tinha de dormir para acordar ainda antes do sol nascer, lá ia eu com ela para a sala passar mais umas horas até ela ficar cansada. No nosso processo de mudança, que incluiu uma série de passos (desde a hora de acordar até ao tamanho das sestas) a hora de deitar passou realmente a ser mais cedo, mediante a tal visualização dos sinais de sono. Mas a pequena Mini-Tété, mesmo deitada à hora certa, não estava habituada aquilo e mal a pousava na cama, desatava num berreiro por não querer dormir. Até que um dia, mal lhe peguei e me dirigi à porta do quarto, ela calou-se. E eu percebi que afinal aquele choro todo era com o intuito que a levasse para a sala para brincar mais um bocado. Manhosa e espertinha, a minha filha! E nessa noite acabou-se. Posso dizer-vos que as noites seguintes foram de berreiros de fazer estremecer o prédio, mas ficávamos ali as duas, no quarto, com ela ao meu colo (tenho um problema com "deixar ficar na cama a chorar até que se cale"), com o Jack a tentar dormir, até a pequenina ter percebido que por muito que chorasse, já não voltava à sala para brincar e que mais valia dormir porque não havia nada de divertido ali no quarto para fazer. E foi assim que controlámos a primeira "manha" da Mini-Tété e a fizemos começar a dormir a horas decentes.

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